1. Descobrir e propor o projeto de Deus para o mundo e para os
homens. O profeta é homem do seu tempo, marcado pelas descobertas,
conquistas, contradições e esperanças dos homens do seu tempo… É também
alguém com uma fé profunda, com uma consciência muito forte da presença
de Deus na própria vida. A vida de união e de comunhão com Deus vai
impregnando a vida do profeta, de modo que vai aprendendo a interpretar
todos os acontecimentos políticos, sociais e religiosos à luz de Deus e
do seu projeto. Só deste modo ele pode apresentar o projeto de Deus para
os homens hoje.
2. Sentir-se chamado por Deus, receber de Deus uma missão, ser
enviado por Deus ao mundo. Deus chama de muitas formas… Um sonho, uma
leitura, um acontecimento, um sinal… Às vezes descobre-se o seu apelo no
rosto de um pobre ou de um escravizado; outras vezes, nas páginas dos
jornais; outras, nas necessidades da Igreja ou da sociedade; outras, nos
acontecimentos turbulentos do presente; outras, mais simplesmente, nas
palavras de um amigo ou de um mestre… Ao ser chamado, o profeta recebe
de Deus uma missão.
3. Estar marcado pelas experiências de solidão, angústia, sofrimento,
crise, rejeição, incompreensão… Ser fiel à missão de Deus, mesmo
quando, com essa atitude, o profeta se sente abandonado, rejeitado,
incompreendido. No fundo, trata-se de arriscar a vida, na certeza da
presença de Deus.
4. Estar desinstalado, num território concreto… como espaço de
verificação e de rejeição da profecia anunciada. Ninguém é profeta na
sua terra, é certo. Mas é na terra, no espaço concreto, na escola, no
local de trabalho, na comunidade, na Igreja… que a profecia deve ser
anunciada. Com coragem, com desassombro.
5. Viver no quotidiano da existência, na minha situação concreta,
aqui e agora. Como ser profeta, aqui e agora, na minha situação, face
aos problemas reais que me entram pelos olhos e interpelam o meu coração
aberto ao Pai e ao próximo?
6. Anunciar as Boas Novas de sempre duma forma sempre nova. O
conteúdo do anúncio profético é sempre o mesmo. Mas esta única Palavra
de Deus deve ressoar duma forma sempre nova…
7. Assumir um modo novo e inédito de viver e anunciar o essencial.
Anunciar um modo novo de viver o essencial. E o essencial é a fé, a
esperança e a plenitude do amor, das quais os profetas foram testemunhas
vulneráveis mas obstinados. O Espírito sopra onde quer e como quer, com
liberdade imprevisível, não se deixando amarrar em esquemas exclusivos
ou demasiado estreitos…
8. Escutar, aprender, receber, acolher… o Deus do povo e o povo de Deus.
9. Ser coerente entre a palavra anunciada e as opções pessoais.
Quantos pretensos profetas gritam diante dos microfones, ditam sentenças
nos jornais a torto e a direito, gesticulam nas praças e na televisão…
mas não dão testemunho com a sua vida. Por isso, não mudam as coisas! Há
incoerência entre pensamento e vida, entre ideal e prática.
10. Denunciar não apenas os pecados, mas as estruturas de pecado, promover e estimular novas estruturas de virtudes e valores.
11. Testemunhar entre o silêncio intenso-pleno e o silêncio
despojado-vazio. Diante dos dramas recentes e atuais, diante das
angústias e sofrimentos, diante dos vazios e da falta de esperança, o
profeta dá testemunho, com o seu silêncio, do silêncio de Deus. Não é
fácil, mas pode ser um silêncio fecundo que fala.
12. Lutar contra os novos ídolos de hoje: detetá-los, desmascará-los, denunciá-los…
13. Anunciar a fé e a justiça, assumir a esperança como raiz da
profecia. Não se trata de duas coisas distintas: a fidelidade ao Deus
vivo exige a defesa dos direitos do pobre. A mensagem profética, na sua
capacidade de denúncia, integra-se e aperfeiçoa-se, especificando-se, na
proposta de uma utopia, na “proposta de uma alternativa”, chamada
esperança. Sem esperança não há profecia.
14. Viver pobre a profecia da gratuidade,
da sobriedade, da essencialidade: sentir a alegria de dar,
gratuitamente; experimentar a força do Amor criador de Deus; praticar
diariamente uma vida simples, sóbria; ir profeticamente contra a
corrente do domínio e do consumo; ser capaz de desmascarar as raízes do
egoísmo e as suas consequências…
15. Viver obediente a profecia da
multiculturalidade: descobrir a única vontade de Deus Pai; deixar os
isolamentos, os nossos planos egoístas; procurar a vontade de Deus na
vontade da comunidade; deixar de lado o escândalo da excomunhão mútua;
comungar no mesmo Deus…
16. Viver casto a profecia da sexualidade
redimida: testemunhar a redenção de Cristo na globalidade do nosso ser
(inteligência, liberdade, fantasia, corpo, afetos, sentidos); ser
profetas da libertação integral…
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