quarta-feira, 3 de julho de 2013

"Segue-me"


"Gosto de lembrar que o primeiro nome dado aos discípulos de Jesus, segundo nos conta os Actos dos Apóstolos, foi: "os do Caminho". E só em Antioquia recebemos o nome de "cristãos". Aquele primeiro nome continua a evocar esta realidade de movimento e procura, de "andar com" Jesus e com outros, de seguir Alguém que se chamou a si mesmo "O caminho", que importa nunca perder na identidade cristã. Se o nosso povo diz, com sabedoria, que "parar é morrer", sabemos que todas as formas de instalar e acomodar a experiência cristã, de retirar às palavras de Jesus a sua força profética de transformação, de cristalizar o Reino de Deus em estruturas simplesmente humanas que nos "endeusam" em vez de servir o projecto de amor de Cristo, são claramente provisórias. A fé em Jesus Cristo é dinâmica, anda de mão dada com a esperança e oferece generosamente actos de amor.

Caminhar implica despojamento, escolha do essencial, uma meta e uma companhia. E ainda que a meta não se vislumbre completamente, é bom saber com quem vamos, porque o caminho até se torna menos árduo se o fazemos com outros. Na decisão de Jesus há uma continuidade e uma ruptura: Jerusalém era a cidade santa onde era sempre maravilhoso poder ir, mas é também a cidade que rejeitou os profetas e a novidade da mensagem de Jesus vai confrontar-se com a lei empedernida dos judeus. Por isso não basta querer seguir Jesus, como desejam os do evangelho de hoje. É preciso revestir-se das suas atitudes de humildade e coragem. É necessário não buscar seguranças a não ser a de anunciar o amor libertador de Deus, de não ficar preso aos laços que impedem de abraçar o horizonte maior do Reino, de não estar voltado para o passado mas olhar para o futuro que Jesus sempre nos propõe. Não é verdade que muitos futuros não se concretizam porque nos agarramos demasiado ao passado? E quantas pessoas encerramos em julgamentos porque deixamos de confiar na esperança? Que diremos a Jesus, para quem o futuro de cada pessoa vale mais que todo o passado, e sempre enche de esperança o vazio que o mal produz?

Seguir Jesus não é algo solitário. É a derrota do individualismo, que pode gerar alguns heróis mas não é capaz de fazer nenhum santo. Com Ele aprendemos que só somos uns com os outros. Jesus não quis ser sem nós, Ele que é "com o Pai e o Espírito". Seguimo-l'O em comunidade, na imensa e rica diversidade de laços de comunhão que podemos sempre a criar (e às vezes também quebramos, mas não podem, a qualquer momento, ser religados?). O importante é não nos acomodarmos, quase como dizia Fernando Pessoa "sem que um sonho no erguer de asa / Faça até mais rubra a brasa / Da lareira a abandonar". Não caiamos na tentação de adaptar o evangelho a uma vida "assim-assim", talvez uma "meia-vida", que nunca enche o coração nem realiza o que somos. Dizia o Papa Francisco no Pentescostes passado: "Muitas vezes seguimo-Lo e acolhemo-Lo, mas até um certo ponto; sentimos dificuldade em abandonar-nos a Ele com plena confiança, deixando que o Espírito Santo seja a alma, o guia da nossa vida, em todas as decisões; temos medo que Deus nos faça seguir novas estradas, faça sair do nosso horizonte frequentemente limitado, fechado, egoísta, para nos abrir aos seus horizontes"."

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